quarta-feira, 7 de abril de 2010

Teologia Narrativa - começando a conversa

O Isaías deixou um comentário sobre teologia narrativa, tema de seu interesse. Nesse comentário cita Frei e Hauerwas, que afirma o caráter narrativo do jeito do ser humano pontuar a sua vida no mundo. Até aí, tudo bem. De fato, para dar sentido à vida pessoal e social, a maioria de nós constrói (conscientemente ou não) narrativas, mediante as quais damos ordem ao caos que é a vida. A partir dessa noção, tem se falado muito e praticado também terapias narrativas, pedagogias narrativas em situações multiculturais e lutas por reconhecimento mediante a narrativa de identidades.
O pouco que tenho lido sobre teologia narrativa me faz, porém, levantar uma questão. Não é porque narrativizamos a identidade que a teologia precisa ser apresentada em um gênero textual narrativo. A crítica que teólogos narrativos fazem à teologia conceitual é, na maior parte das vezes, legítima. Muita teologia acadêmica e eclesiástica se reduziu a mero sistema conceitual, apologético, frio, sem vida. Isso não quer dizer, porém, que o gênero textual acadêmico-contextual só consiga produzir relatos sem-vida.
Em semiótica o termo narrativa tem dois sentidos distintos. O primeiro, já mencionado, é o do gênero textual narrativo - com suas várias formas: conto, novela, relato, crônica, romance, história, etc. O segundo, mais profundo e mais interessante do que o primeiro, afirma que narrativa é uma estrutura básica do pensar e produzir sentido que gira ao redor de uma transformação. Um estado inicial é modificado para chegar a um estado final. O estado a que a semiótica se refere é o de junção entre um sujeito e um objeto-valor. A junção se desdobra em conjunção e disjunção. A narrativa é a passagem de uma conjunção para uma disjunção e vice-versa.
Esse modelito simples da narratividade tenta dar conta de uma realidade complexa. Para darmos sentido à vida, buscamos a junção com certos valores (objeto-valor). Ou seja, tentamos a conjunção com aquilo que desejamos e a disjunção em relação ao que desprezamos. Nesse sentido, todo e qualquer gênero textual se baseia em uma narratividade prévia.
Se formos por aí, uma teologia narrativa não precisa ser apenas teologia em gêneros textuais narrativos. Pode ser também teologia em gêneros não-narrativos que gire ao redor da narratividade, ou seja, das transformações que dão dinâmica e sentido à vida humana e à relação de deus com a sua criação.
Agora, a bola volta para o Isaías, e para quem quiser arremessar ...

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