O tema da espiritualidade sempre me desafiou. Não passam muitos meses e eu volto a ensinar, escrever ou debater sobre a aventura da fé. Tá certo que teólogo não é a pessoa certa para escrever sobre este assunto. Ninguém acredita na espiritualidade de teólogos. Isso, no final das contas, é muito bom, pois nada mais complicado do que ser guru. Mais cedo do que se pensa, os conselhos do guru dão errado...
Mas, enfim, eu vivo tentando ser uma pessoa espiritual. Para mim, ser espiritual é, antes de qualquer outra coisa, ser desprendido. No Houaiss e no Michaelis, desprendida é a pessoa que foi desamarrada, foi solta, tornou-se independente - o que me conduz a Gálatas capítulo 5: para a liberdade o Messias Jesus nos libertou. Ser desprendido é, também, ser indiferente - em meu caso, indiferente aos bens materiais, roupas de grife, carro da moda, etc. Isso de vez em quando me arruma encrencas domésticas, pois depois de três décadas de trabalho, meu patrimônio é quase "zero". Mas isto me lembra de I João, "usar os bens deste mundo sem se escravizar a eles". Ser espiritual é ser desprendido, pois só assim a gente consegue viver para o outro. Como dizia Levinas, "além do egoísmo e do altruísmo está a religiosidade do self". No dicionário também se diz que desprendido é "exalado". Gostei dessa definição. Primeiro, por que ela me lembra de uma velha canção "dinheiro na mão é vendaval" - gosto de gastar, pouco mas bem, para viver feliz e não destruir ninguém. Segundo, porque nós, cristãs e cristãos, somos sopros, hálitos de Deus. E aí voltei para o hebraico e o grego em que "espírito" é vento. Ser espiritual é ser brisa suave, vento forte, ventania, tornado, furacão: mas Ser espiritual, só Deus. Nós somos (eu com certeza sou): Vento-Abel. Vento-Névoa. Vento-Nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário