A espiritualidade cristã tem tudo a ver com desprendimento. É seu ponto de partida e, talvez, também o de chegada: "para a liberdade o Messias nos libertou". Quem é desprendido não ama o mundo nem o que nele há (I João 2,15-17) - em termos bem contemporâneos - não ama o sistema capitalista e seu deus Mamom, chamado de Mercado; não ama o sistema político e seu deus Poder, chamado de Democracia; não ama o sistema tecnológico e seu deus Conhecimento, chamado de Ciência; não ama o sistema midiático e seu deus-ídolo Prestígio, chamado de Audiência. Quem é desprendido não ama a sim mesmo além do que merece amar, apenas ama a si mesmo com o mesmo amor com que ama o próximo, mas com menor amor do que o amor com que ama a Deus, pois só amando a Deus acima de todo amor próprio é que se consegue viver desprendidamente.
A espiritualidade cristã tem, então, tudo a ver com o corpo, a matéria, o aqui-agora. A materialidade do mundo e da gente é tão espiritual que dela não nos conseguimos desprender e dela fabricamos ídolos. Século XXI d.C., sim, mas continuamos tão primitivos quanto as hordas selvagens e totêmicas que cientistas modernos da psiquë consideravam sub-humanos, ops, sub-desenvolvidos. A materialidade mundana é tão espiritual que a teologia mais popular é a do deus-dinheiro-prosperidade.
Não, o problema não é a materialidade. O problema são os nossos valores. A matéria é espiritual, sim, pois se origina do sopro divino, tão espiritual que até se diz dele que é imaterial - que baita contra-senso. O problema não é o materialismo, mas a espiritualização do materialismo. O problema é que nossas idéias, fora do lugar, não sabem colocar a matéria no seu devido lugar.
Ser espiritual é ser corpóreo, frágil, mortal. De novo: Vento-Nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário