segunda-feira, 5 de abril de 2010

Religiões, Filosofias e Ciências

A relação entre religião e ciência, assim como entre teologia e ciência, possui uma longa história. Nos tempos medievais, não havia distinção disciplinar ou epistêmica entre os diversos campos do saber humano, todos subsumidos na Universidade auspiciada pela Igreja Católica. Com o advento da Modernidade, a divisão epistêmica e disciplinar começa a surgir e, com ela, a necessidade de colocar em relação dois tipos de saber que, outrora, não se distinguiam claramente. Em um primeiro momento, como busca de libertação do controle eclesiástico, e apoiada pela crítica protestante (segundo a leitura de Foucault), a filosofia se separa da religião e se coloca em confronto com a mesma, posto que se considera porta-voz da verdade e da razão (uma coisa só, então). Posteriormente, as ciências específicas vão se tornando autônomas e também precisam definir sua relação com a filosofia e com a religião. Em relação à religião, se toma distância crítica, a partir da afirmação de que somente o método científico conduz à verdade, deixando à religião o campo do mito, da ilusão, da falsidade ou da ideologia, dependendo dos autores em questão.
Hoje em dia o quadro não é muito diferente. Onde se pensa que há um só caminho para a verdade, a relação é conflituosa. Fundamentalistas, na filosofia, nas ciências, ou na religião, vivem se degladiando em busca da auto-afirmação exclusiva de posse e guarda da verdade. Onde cientistas, filósofos e religiosos se entendem como pessoas incompletas, com conhecimentos incompletos, buscando Verdade que sabem jamais será encontrada em plenitude, a relação é amistosa. Entre os dois extremos, da negação e da aproximação, há o "em cima do muro" da indiferença.
O terreno de encontro tenso entre esses três tipos de saber se dá nas discussões bioéticas, posto que estas não só têm a ver com a definição do que é ser humano, como também têm a ver com a normatização do que se fazer com o humano - aborto, alimentação transgênica, pesquisa com células-tronco embrionárias, alteração dos limites biológicos mediante a tecnologia, etc.
Já passou o tempo em que se podia falar de religião e ciência como "magistérios não-interferentes" (NOMA, non-overlapping magisteria). Religiões, filosofias e ciências se entecruzam constantemente na definição do que é ser humano, do que é viver bem, do que é viver justamente em coletividade.
A questão é: irá vencer o bom-senso e prevalecer o diálogo, ou os fundamentalistas em cada time serão os manda-chuvas?

2 comentários:

  1. muito bom pai! obrigada pela ajuda!! rs

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  2. de nada filhinha, vê se ensina algo útil para essa turma de fisios no mestrado ...

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