sexta-feira, 28 de maio de 2010

Vida sintética

Jornais de todo o mundo repercutem a nota divulgada por J. Craig Venter sobre o sucesso dele e sua equipe na criação de um genoma a partir do qual produziu uma célula auto-replicante.
Em inglês, a nota dos cientistas: "We report the design, synthesis, and assembly of the 1.08-Mbp Mycoplasma mycoides JCVI-syn1.0 genome starting from digitized genome sequence information and its transplantation into a Mycoplasma capricolum recipient cell to create new Mycoplasma mycoides cells that are controlled only by the synthetic chromosome. The only DNA in the cells is the designed synthetic DNA sequence, including "watermark" sequences and other designed gene deletions and polymorphisms, and mutations acquired during the building process. The new cells have expected phenotypic properties and are capable of continuous self-replication." (http://www.sciencemag.org/cgi/content/abstract/science.1190719). A tradução é mais ou menos a seguinte (como não sou especialista em biologia, não posso garantir a correção da tradução de termos técnicos): "Relatamos o desenho, síntese e reunião do genoma 1.08-Mbp Mycoplasma mycoides JCVI-syn1.0 a partir da informação digitalizada da seqüência-genoma e seu transplante em uma célula recipiente Mycoplasma capricolum, para criar novas células micoides Mycoplasma que são controladas apenas pelo cromossoma sintético. O único DNA nas células é a seqüência sintética desenhada, incluindo seqüências "marca d'água" e outros polimorfismos e supressões de genes, bem como mutações adquiridas durante o processo de construção. As novas células têm as propriedades fenotípicas esperadas e são capazes de contínua auto-replicação."

Em outras palavras, a criação de formas não-naturais de vida em laboratório se concretizou nessa experiência que, certamente, será ponto-de-partida para vários outros experimentos. As implicaçoes éticas do experimento bem-sucedido já foram objeto de uma reunião no Congresso norte-americano, bem como suscitaram vários debates acadêmicos. Paul Rabinow, por exemplo, estudioso foucaultiano de antropologia e ética, afirmou: "este experimento certamente irá reconfigurar a imaginação ética" (21 MAY 2010 VOL 328 SCIENCE www.sciencemag.org). A discussão bio-ética em que o experimento mencionado está implicada já tem dado vários e significativos passos, ainda que em constante evolução e mutação.

Acrescento, irá reconfigurar também a imaginação teológica. A noção de vida tem sido usada por teólogos e eticistas cristãos para defender diversos postulados éticos no tocante a aborto, desenvolvimento sustentável, entre outros; bem como para indicar uma peculiaridade de Deus em relação ao ser humano - sua atividade como Criador. Embora o conceito teológico seja mais facilmente defensável, posto que Deus criou a partir do "nada", ou seja, não usou matéria pré-existente, várias de suas formulações terão de ser revistas.

Será que a teologia, mais uma vez, será a última a entrar pra valer nessa temática?

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