OK! Vc tem razão. É apenas um slogan: "Igrejas cheias, Reino de Deus vazio". Slogan serve para chamar a atenção e destacar um ítem específico. A diversidade eclesial no Brasil é muito grande e não pode ser capturada em um slogan, nem mesmo em uma "análise de conjuntura", ou numa "tipologia". De fato, toda tipologia é uma espécie de andaime - a gente só usa enquanto não conclui o trabalho a ser feito.
Quando olho para o cenário eclesiástico "protestante" brasileiro (que é afinal de contas, ser protestante hoje? Quais são as igrejas protestantes? Sem qualquer exatidão tipológica - protestantes aqui são as igrejas que se dizem cristãs, mas não são católicas nem ortodoxas), o que vejo são muitos templos, dos mais variados tipos e tamanhos, com as mais variadas agendas e programações. Vejo a alegria, às vezes meio envergonhada, de colegas que se ufanam de sermos mais de 20 milhões; ou a tristeza de outros colegas, pela mesma razão.
Bem, eu mais me entristeço do que me alegro com os milhões de protestantes (evangélicos, segundo a mídia) nas igrejas no Brasil. Grosso modo, na maioria dos casos, iremos encontrar pessoas convencidas da eficácia de um discurso religioso, mas sem entrega ao Rei de toda a criação. Pessoas que sabem pedir, suplicar, decretar e pressionar Deus para lhes dar o que desejam; como se Tiago não tivesse nos lembrado que quando oramos mal, vivemos pior ainda; como se Jesus não tivesse tentado nos ensinar a orar ao Pai de toda a criação, e não ao pai individual de cada individualista consumidor religioso de nossos dias.
Ah! Mas o pessoal fala em "missão integral", até a IURD faz obra social! Como diz a canção, "falar é fácil", ou como diria um intelectual, "discursos vazios, ideologicamente eficazes".
Quero lançar um manifesto: "pelo fim da Missão Integral". MI virou ortodoxia oca e enganadora na prática pervertida das instituições igrejeiras que não conhecem o Deus que reina. "Abaixo a Missão Integral", afinal de contas, se somos protestantes, por que paramos de protestar?
Talvez, porém, seja melhor outro manifesto: "Venha o teu Reino, Senhor!" Melhor, não só por que está na Bíblia. Melhor por que "missão integral" é apenas um conceito que nós inventamos na América Latina para, profeticamente, dizer não aos reducionismos missiológicos de direita e de esquerda. Apenas um conceito que servia como bandeira de luta para quem não conseguia se identificar mais com sua própria denominação, nem queria abandonar o arraial evangélico. Só que o arraial evangélico de hoje é um baita circo capenga, no qual os palhaços não são aqueles artistas que nos fazem rir - os "palhaços" somos nós, que pagamos a conta...
"Missão Integral" foi um nome que inventamos para facilitar a compreensão do que a Palavra nos ensina: Venha teu Reino, Senhor! "Missão Integral" não é bíblica. Integralidade da missão é bíblica. "Missão Integral" não é bíblica, Deus-Rei de toda a criação é bíblico.
Se queremos ser fiéis ao movimento que iniciou nos anos 70 na busca de renovação holística das igrejas evangélicas, não podemos nos aferrar a conceitos teológicos - devemos nos apegar ao "além" do conceito, caminhar para "além" do texto.
Ufa! Para terminar, como é terrível o vírus do fundamentalismo. Quando a gente pensa que ele foi embora, ele volta e nos pega de calças curtas = nossos conceitos não são "de Deus", não são "bíblicos" (isso é fundamentalismo). Nossos conceitos são tentativas, são aproximações à Palavra "de Deus", à "Escritura", ao "Reino"...
Será?
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