Em posts anteriores apresentei a vitalidade e a liberdade como elementos constituintes da parceria entre YHWH e sua criação. Quero destacar, neste, alguns dos obstáculos fundamentais que, na contemporaneidade, se interpõem à vitalidade e à liberdade.
Começando com o mais abstrato: o sistema econômico capitalista. Ficou meio fora de moda criticar o capitalismo de modo radical. Afinal de contas, vivemos na época do pensamento único, do fim das ideologias e das utopias...
Não tenho problema, porém, em estar fora de moda se for necessário. O capitalismo tornou-se um sistema econômico que coloca obstáculos de elevada monta à vitalidade. Apenas exemplos: Posso começar com a crise ambiental que vivemos e que, apesar das grandes reuniões e eventos, ainda não está próxima de ser superada. No final das contas, entre ambiente e lucro, o capitalismo elege o lucro. O capitalismo é gerador de miséria e exclusão, além de manter os trabalhadores dentro de patamares baixos de remuneração - doutra forma a tal de mais-valia (ainda que o conceito mereça revisão) não consegue formar parte do lucro. Ok! Não temos nenhum outro sistema econômico preparado para entrar e substituir o capitalismo. Mas quando o capitalismo iniciou, ele estava na mesma condição em relação ao feudalismo.
Semelhantemente, o capitalismo não é compatível com a liberdade. É moeda corrente nos estudos sociológicos sobre a modernidade - pelo menos entre sociólogos tais como Sousa Santos, José Maurício Domingues, Jessé Souza etc. - que o capitalismo moderno oferece liberdade à troca de mercadorias, mas gera dependência para os trabalhadores e as pessoas que vivem à sua órbita. Em outras palavras, a liberdade formal da cidadania não é acompanhada pela liberdade material da economia. O Estado de bem-estar social não conseguiu superar a dependência, e o atual modelo neoliberal está ainda mais longe de favorecer a liberdade plena do ser humano.
Outro obstáculo, que tem tudo a ver com o primeiro, é o individualismo consumista. Este tornou-se a forma cultural de vida predominante no Ocidente contemporâneo. Pessoas individualistas e consumistas não são capazes de atuar pela vitalidade e pela liberdade, a não ser em auto-benefício - o que, de fato, constitui-se em negação de ambas, posto que não se configura como ação parceira-pactual. O individualismo consumista vincula a identidade da pessoa aos objetos que pode consumir, despersonalizando-a e despersonalizando também as relações inter-pessoais. Semelhantemente, o individualismo consumista gera obstáculos tremendos à responsabilidade pública e, consequentemente, à solidariedade ativa e concreta em defesa dos direitos das vítimas da injustiça cristalizada no capitalismo.
Um último obstáculo a ser mostrado neste post (não último na realidade - deveria falar da ciência, da mídia, do estado...) é a própria religião. A forma contemporânea da religiosidade no Ocidente - nas igrejas e denominações cristãs bem como em outras formas e instituições religiosas - é de cunho individualista, competitivo, consumista e alienante. Na linguagem da carta paulina aos romanos, é uma religiosidade "conformada ao presente século", ou seja, com a cara do mundo presente. Uma religiosidade que abandonou a utopia, que abandonou a esperança, que renunciou à luta pela justiça e à busca pelo reinado de Deus (cf. o Sermão do Monte em Mateus 6), optando pela busca do dinheiro e tudo o que ele pode comprar. Trocou YHWH por Mamon, configurando-se em religiosidade tipicamente idolátrica.
Se queremos viver de modo concreto a parceria de YHWH, não podemos ser românticos, mas, sim, proféticos. Não podemos nos conformar, mas resistir. Resistir duramente ao "sistema" idolátrico que gera não-vitalidade e não-liberdade; posto que só oferece vitalidade e liberdade para quem as acumula e entesoura exclusivamente para si mesmos.
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