terça-feira, 16 de novembro de 2010

Parceria: Pró-Inclusividade

Dando continuidade aos elementos constituintes da teologia da parceria na escritura judaico-cristã. Juntamente com vitalidade e liberdade, a inclusividade é um dos aspectos da parceria entre YHWH e sua criação.

Inclusividade é um termo debatido, polêmico. Talvez seja bom começar pelo que não seria inclusividade na parceria. Não é inclusividade a assimilação do diferente pelo grupo maior ou mais poderoso. Incluir não implica em exigir a aceitação, pelo incluído, da cultura do incluidor. Também não é incorporação - termo mais institucional, que descreve o desaparecimento do incorporado no incorporador - um tipo mais perverso de assimilação. Inclusividade também não é mera aceitação. Aceitar não conduz necessariamente à inclusão, pois é possível aceitar o outro sem que ele/ela faça parte do mesmo projeto de vida - aceitar sem se envolver, sem se comprometer, sem se relacionar. Também não é aceitar em um sentido passivo de não questionar o que a pessoa incluída faz ou pensa, ou tem como projeto de vida. A parceria de YHWH, quando inclui, transforma.

Começando pelo negativo, você mesmo/a pode deduzir o aspecto positivo. Antes, porém, de ir para essa dimensão, um pequeno desvio. O conceito bíblico mais importante, a meu ver, neste momento, para entender a inclusividade é o de pecado. É claro que, neste caso, não podemos pensar no pecado como um termo ético ou moral, mas devemos pensar nele como termo ontológico. Pecado é um modo-de-ser, é uma espécie de natureza, um tipo de DNA da criatura. A escritura judaico-cristã insiste: "todos pecaram". Todos e todas estamos incluídas e incluídos nesta categoria que não permite hierarquias, gradações, privilégios. Todas as pessoas que vivem são pecadoras - finitas, não-plenas, em-processo, em-busca-de, inter-dependentes, mortais. Se todos pecaram, todas as distinções que nós seres humanos inventamos não têm valor algum, pois todas são negações da parceria na medida em que são recusas de aceitar a nossa condição de humanos, apenas ou demasiadamente humanos.

Com esta revisão do conceito de pecado, podemos redescrever a noção de conversão. Conversão é uma reviravolta, uma retomada de posição, parar de acaminhar na direção da morte e começar a caminhar na direção da vida. Para essa retomada, é necessário o arrependimento (que não se trata de remorso ou ato similar), a tomada de consciência da nossa pecaminosidade, da nossa finitude. Sei que é politicamente incorreto falar de pecado, arrependimento, conversão. Incorreto, mas necessário. Foi o pensamento cartesiano, o humanista, o iluminista e seus assemelhados que transformaram o ser humano em super-humano, em ser-em-direção-ao-progresso-para-o-qual-nasceu. Humanos, somos perfeitos, plenos, racionais. Tão racionalmente plenos que, mesmo reconhecendo as atrocidades dos mundos pré-modernos, as repetimos com elevada dose de sutileza e humanismo ilustrado. Não somos como os antigos, que dividiam o mundo entre gregos e bárbaros, com-alma e sem-alma. Hoje sabmeos que todos somos iguais em dignidade - somos diferentes apenas na conta bancária, no status social. Nossos binarismos são racionais, científicos. É desse caminho que precisamos nos arrepender e encetar meia-volta em direção oposta.

Arrependidas e convertidas, as pessoas estão incluídas na parceria de YHWH. Nessa parceria, o projeto de vida transformador, pró-vitalidade e pró-liberdade envolve todas as participantes - inclusivamente, sem gradações, privilégios ou hierarquias. Todos os membros da parceria contribuem criativamente para realizar a própria parceria, para concretizar as suas próprias dimensões. Entrar na parceria não é tão fácil, mas permanecer nele é menos fácil ainda - há que se adentrar em um novo estilo de vida, ainda-em-construção, inacabado, utópico. Inclusividade que não significa uniformidade, comodidade, banalidade. Incluir para transformar sem-violência. Transformação que é auto-transformação-em-parceria. Incluir todas as pessoas que, de direito, são iguais; embora, de fato, diferentes. Diferenças que não excluem, não assimilam, não incorporam. Diferenças que, includentemente, enriquecem.

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