segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Que tipo de parceria?

Como afirmei no post anterior, penso que o termo parceria é a melhor tradução para o português do significado teológico (propriamente dito) da palavra hebraica berith.

A maior parte das traduções modernas da Bíblia, porém, prefere o termo aliança - que não é ruim - mas ainda assim prefiro parceria. Por quê? Porque a palavra parceria possui em seu núcleo semântico a idéia de um relacionamento interpessoal, não mediado institucionalmente, nem intermediado pessoalmente. Para a versão protestante de cristianismo, a relação da pessoa com Deus é uma relação não-humanamente-mediada (seja por mediação pessoal, seja, especialmente, por mediação institucional). Isto não significa, é claro, que a relação com Deus seja concebida de modo individualista, nem que seja concebida em oposição à participação da pessoa em uma comunidade eclesial.

A ênfase principal recai sobre o fato de que a relação com Deus é pessoal, ou seja, individual e intransferível. "Eu" me relaciono com Deus, a parceria é entre duas pessoas um "eu" e um "tu", entre as quais nada pode se intrometer para definir os termos da relação. Não é possível manter relação com Deus mediante procuração, ou mediante vicariedade, ou mediante solidariedade. "Eu" e "tu" são parceiros enquanto se mantêm na relação eu-tu.

Por outro lado, em função do individualismo que infesta as culturas ocidentais, é importante destacar que a pessoalidade sempre implica em intersubjetividade (ou interpessoalidade, embora este termo não seja comumente usado). A intersubjetividade presente na pessoalidade da parceria, entretanto, não é do caráter da intermediação, nem da representação, mas, da apresentação (no sentido de pessoas apresentando pessoas a outras pessoas). Uma vez apresentadas, o conjunto das pessoas envolvidas passa a formar uma comunidade, uma comunhão de pessoas que se comunicam, buscando a construção de um projeto comum de vida em parceria.

Colocada desta maneira, a significação teológica da parceria se revela prisioneira de uma grande dose de fragilidade. Relações interpessoais podem terminar a qualquer momento. Podem ser cooptadas institucionalmente e transformadas em relações contratuais. Podem ser manipuladas de tal forma que a parceria se extinga e ocorra em seu lugar o uso de uma pessoa por outra(s). Talvez por isso encontremos um dito "enigmático" de Jesus no evangelho de Lucas: o reino de deus é tomado violentamente. Talvez por isso Paulo tenha destacado o poder da fraqueza de Deus. Talvez por isso as virtudes "teologais" sejam fé, amor e esperança - virtudes frágeis, duas das quais meramente temporárias, sendo que somente o amor permanece além e aquém da temporalidade.

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