quinta-feira, 1 de julho de 2010

Religião Verdadeira!?

Uma das características do comportamento religioso, especialmente quando há uma organização institucional presente, é a crença de que só uma religião é verdadeira. E, é claro, a religião verdadeira é a minha. No caso do Cristianismo, é muito comum ouvir pessoas e instituições fazendo essa afirmação com base em textos bíblicos como "Eu sou o caminho, a verdade e a vida, neinguém vem ao Pai senão por mim", ou "E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos".

Lidos superficialmente, estes textos realmente sugerem que só há uma religião verdadeira, a cristã. Entretanto, como a superfície dos textos normalmente não diz praticamente nada, precisamos prestar mais atenção ao que esses versículos de fato afirmam.

Note bem: não se está falando do Cristianismo, mas de Jesus - Ele é o único caminho e o único salvador. Não podemos confundir Jesus com as Igrejas Cristãs, nem com as doutrinas e confissões de fé, nem com as comunidades ditas cristãs. Jesus é uma pessoa, uma pessoa peculiar, divino-humana, diferente de todas as demais pessoas e irredutível a qualquer forma religiosa.

Jesus é, antes de tudo, um caminho, como diz o texto de João. Assim, sua proposta não é a de hierarquizar religiões, mas de hierarquizar caminhos, estilos de vida. Como se diz no sermão do monte, segundo o evangelho de Mateus: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus". Não se trata, então, de religião, de confissão, mas de ação, de existência semelhante à do Messias Jesus. Quem faz a vontade do Pai celestial? Quem vive como Jesus, quem ama como Jesus, quem sofre como Jesus, quem ganha dinheiro como Jesus, quem morre como Jesus, quem ressuscita como Jesus ...

Ou, então, de acordo com um sermão apocalíptico de Jesus, segundo Mateus: "Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me. Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos? Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te? E responder-lhes-á o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes."

Ou, ainda, segundo Paulo, o apóstolo dos protestantes: "Portanto, és inescusável, ó homem, qualquer que sejas, quando julgas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu que julgas, praticas o mesmo. E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade, contra os que tais coisas praticam. E tu, ó homem, que julgas os que praticam tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te conduz ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo as suas obras; a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em favor o bem, procuram glória, e honra e incorrupção; mas ira e indignação aos que são contenciosos, e desobedientes à iniqüidade; tribulação e angústia sobre a alma de todo homem que pratica o mal, primeiramente do judeu, e também do grego; glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem, primeiramente ao judeu, e também ao grego; pois para com Deus não há acepção de pessoas".

Deixo estes dois textos bíblicos sem comentário ou interpretação. Quem sabe a força chocante desses textos seja a melhor resposta para quem acredita ter a religião verdadeira e classifica todos os demais como idólatras, perdidos, etc. Quem sabe a força chocante desses textos seja o melhor desafio para quem acha que basta ser religioso para ser salvo.

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