Em outras épocas se falava do Brasil como uma terra de extremos contrastes - com o bem-estar de uma Bélgica e a miséria de partes da Índia. Hoje em dia o termo "Belíndia" não faz muito sentido, até porque a Índia tem passado por importantes transformações sociais e econômicas. Todavia, o Brasil continua uma terra de contrastes imensos.
Hoje, no Bom Dia Brasil, os apresentadores da Globo conversavam sobre a "nova classe média" brasileira (também denominada, no programa, de a nova classe "c"), que está adotando os padrões de consumo da 'elite". Diziam os globais que a nova classe média compra produtos de luxo com preço alto mas em prestações bem suaves, "bem" suaves "mesmo". Produtos de luxo, é claro, adaptados aos bolsos e gostos dessa tal de nova classe média, já que os produtos de "elite" permanecem inacessíveis aos mais comuns dentre os mortais.
Deixemos de lado as imprecisões sócio-econômicas dos termos nova classe média e nova classe "c". A questão é: a partir do consumo um novo modo de contraste entre "ricos" e "pobres" se constitui em nosso país - as pessoas que gastam o que não têm para sentir o "gostinho" de ser rico e mostrar a aparência do sucesso - em contraste com a quase metade da população brasileira que continua vivendo na faixa da pobreza, só não morrendo de fome graças às políticas assistenciais do governo. Parte dessa população pobre, que conseguiu um pouquinho de ascensão sócio-econômica, ambém adota padrões de consumo das classes mais abastadas - tais como festinha de quinze anos, etc...
Eis aí a nova utopia do povo brasileiro: consumir "coisa de rico", mesmo sendo "pobre" ou "remediado". O pouco (ou muito) de ascensão sócio-econômica que se consegue não tem mais a ver com a busca de justiça social, mas com a busca de consumo, da identidade dos "bem de vida", em uma rendição incondicional aos padrões "mundanos" de vida social.
Uma teologia frágil precisa ajudar a desmontar essa utopia forte do consumismo, em busca de uma nova e frágil utopia da justiça social - sem recair nas ideologias e ideologismos do passado recente, mas, acima de tudo, sem se render à mesmice burra e desumana do consumismo: a face "benigna" do capitalismo que continua mais selvagem do que nunca.
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