Há muitos discursos anti-religiosos hoje em dia. A maior parte deles se baseia em simples preconceito, ora pessoal, ora intelectual - preconceito que podemos traçar pelo menos até as origens da Modernidade, quando por justas razões se criticava a instituição eclesiástica alinhada com os governos imperiais, o que se chama até hoje de Cristandade e é uma mancha terrível no Cristianismo. Justas razões servem, também, para encobrir más atitudes e o preconceito anti-religioso é uma dessas má atitudes encobertas por boas razões. Mas, deixo de lado o preconceito anti-religioso. Não gosto de defender as religiões, seja porque elas não precisam de defensores, seja porque há tanta pluralidade no campo religioso, inclusive dentro de grandes instituições religiosas, que defender ou atacar a religião, ou as religiões, sempre recairá em um generalismo inconseqüente.
Meu tema é outro. Um discurso apologético das religiões é o que afirma que a prática religiosa torna as pessoas mais éticas, mais conscientes da sua culpa, mais abertas à correção de seus próprios rumos. Bem, por um lado, conheço várias pessoas em relação às quais tais afirmações tenham validade - mas também conheço bem mais gente para as quais não têm.
Uma variante desse discurso apologético se dá no âmbito interno da disputa entre denominações cristãs. Uma disputa antiga e que, até onde consigo enxergar, não cessará tão cedo, ou mesmo jamais cessará. Mencionarei apenas uma dessas disputas, a disputa entre "espirituais" e "doutrinários". Evito os termos mais comuns dessa disputa "pentecostais" versus "tradicionais", exatamente por causa do generalismo perigoso que tais termos acarretam, como se todos os pentecostais fossem iguais e todos os tradicionais idem.
A questão, a meu ver, é que no âmbito do Cristianismo há, recorrentemente, uma disputa entre pessoas e instituições que assumem ser mais espirituais do que outras pessoas e instituições. O problema é que tais pessoas "mais espirituais" definem a espiritualidade a partir de sua própria experiência religiosa, que se torna o padrão para julgar outras pessoas e instituições.
Infelizmente, porém, dia após dia indícios de que tal espiritualidade superior não é compatível com a fé cristã se avolumam. Ser cristão não é uma questão de "experiência", ou de "espiritualidade" mas de amor ao próximo e integridade pessoal e institucional. De nada adiantam experiências fantásticas, êxtases cúlticos, fervores na oração, etc., se tais não se fazem acompanhar de amor e integridade. De fato, sem amor e integridade só nos restam desculpas e discursos auto-apologéticos e acusatórios contra os que não são como nós.
Precisamos reinventar o padrão da espiritualidade cristã, a partir da simplicidade do amor e da integridade (que não é sinônimo de perfeição!). Religião e ética não caminham juntas automaticamente, especialmente no Cristianismo. Ser cristão implica em diariamente enfrentar o desafio de caminhar em amor e integridade, porque cristãs e cristãos sabem que são "pecadores", ou seja, são pessoas que normalmente não caminham em amor e integridade, e sabem que não basta ter uma "experiência" espiritual fantástica na vida para deixarmos de ser o que somos.
Uma vez pecador, sempre pecador. A única diferença entre as pessoas é que algumas dentre as pecadoras assumem sua pecaminosidade e a enfrentam com amor e integridade. Outras, ou não a assumem, ou a enfrentam com "espiritualidade". Se você preferir linguagem religiosa, umas assumem o caminho do Messias Jesus, outras não. Mas só um lembrete: o caminho do Messias Jesus não é o caminho das Igrejas e das "espiritualidades" ...
Ola, Professor! Demorei mas estou aqui , ler os 52 artigos só deste ano colaborou para isto, agora pensar sobre cada um deles é que são elas!Rsss!Rsss! Me parece que este ultimo artigo vai ter continuidade, espararei para comentar especificamente sobre isto, como sou "espirituais"(neo-pentecostal)me importa muito este artigo.
ResponderExcluirProfessor um abraço, Deus o Abençoe muito em sua missão.
Divino Alcantara
convalidação da FLAM
Caro Divino,
ResponderExcluirOs "espirituais" não são, aqui, idênticos aos "neo-pentecostais". Uso o termo espirituais de modo mais genérico, posto que tal visão da espiritualidade está presente em todos os segmentos do Protestantismo no Brasil - embora seja mais comum entre pentecostais e neo-pentecostais.
Kharis kai eirene
ResponderExcluirPrezado Júlio, preciso que o amigo entre em contato comigo a respeito de Strong. Estou muito preocupado. O prazo da expirou.
Esdras