Uma semana sem postar - muito trabalho e muitos problemas com vírus (informáticos) e arquivos infectados ... Os imprevistos e as rotinas do dia-a-dia também atrapalham a disposição blogueirante.
Mas, vamos lá. Problemas informáticos à parte, que são de solução relativamente simples, na última postagem comecei a tratar de um problema bem mais complicado e de solução muito difícil, senão impossível. Para muitos praticantes da religião, o que realmente importa é o rito, o culto, ou o êxtase, a emoção, a interioridade. São esses que eu chamei de "espirituais", mas poderia chamar de subjetivistas, interioristas, intimistas, ou coisa semelhante. Para esse tipo de experiência religiosa, a relação com a ética é de radical distinção. Religião é uma coisa, ética é outra. A religião e a ética ficam em compartimentos separados do cérebro e do resto do corpo também. Possuem fontes diferentes e seguem caminhos diferentes. Por isso, é relativamente comum que tais religiosos sejam eticamente inconseqüentes. Apesar de autores e autoras que afirmam ser a ética predominantemente uma questão de decisões emocionais, penso e vejo a ética (minha e de outros)como uma prática predominantemente argumentativa, ou racional - seja uma racionalidade meramente instrumental (o mais curto caminho para conseguir o objetivo desejado), sejam outros tipos de racionalidade, mais abrangentes, mais amplos. Como a experiência religiosa drena a maior parte das energias para o investimento emocional, faltam forças para a reflexão ética que, passa, então, a ser subordinada à emoção religiosa. A religião ajuda a lidar com o stress do dia-a-dia, gerando um mundo virtual de bênçãos e maldições, de modo que a energia investida na religião acaba por se traduzir em "lucros" materiais e éticos - lucros virtuais ou reais.
A ética cristã "padrão", por outro lado, não segue um caminho distinto do da experiência religiosa cristã. Por quê? Porque a experiência religiosa cristã "neo-testamentária" é eminentemente pessoal e se constitui de fidelidade e amor (a Deus e ao próximo e a mim-mesmo). O problema a ser enfrentado pelos crentes cristãos é o da doutrina milenar das igrejas, que afirma que a experiência religiosa cristã é, eminentemente, de crença e obediência (à instituição mediadora da experiência). Os "espirituais" apenas trocaram a crença pela emoção, e a obediência passou a ser dirigida ao "agente do sagrado" mais próximo do crente - pastor, padre, santo, freira, bispo, apóstolo, ou seja qual for o nome ou título do mediador da experiência.
O desafio, então, é recanalizar nossa busca e nossas energias religiosas para a relação pessoal com Deus, mediante a relação pessoal com o próximo e comigo mesmo. A mediação da relação com Deus, então, não é mais a doutrina, nem a emoção, mas a fidelidade amorosa e o amor fiel ao Outro como Próximo e ao Si-Mesmo como Outro (Paul Ricoeur). Pode parecer uma descrição "humanista" ou "secularista" da fe cristã, mas não é. Veja os seguintes textos bíblicos: "se vos amardes uns aos outros como eu (Jesus) vos amei, todos saberão que sois meus discípulos" (João 13,34-35); ou "se alguém diz: 'Eu amo a Deus', e odeia seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu" (I João 4,20-21), ou "Mas dirá alguém: 'Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras" (Tiago 2,18); ou, para não dizer que não citei Paulo: "Pois toda a lei se cumpre numa só palavra, a saber: Amarás a teu próximo como a ti mesmo" (Gálatas 5,14), ou "Porque no Messias Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor" (Gálatas 5,6).
Só assim, pelo menos na visão cristã neotestamentária, religião e ética caminham juntas - no caminho do amor ao próximo.
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