terça-feira, 29 de junho de 2010
Nova foto
Como na foto anterior, a cara do guri não aparecia, coloquei uma nova - só do gurizinho, que é a cara do avô, é claro!
Creio no Deus Criador, mas não sou criacionista!
Parece uma contradição, não é? Afirmar que Deus criou o mundo e negar ser criacionista. Parece, mas não é. Por quê?
1. O criacionismo é um conceito teológico-filosófico que afirma duas coisas simultaneamente: (a) Deus criou o mundo; (b) Deus criou o mundo exatamente da maneira como a Bíblia descreve. Ao afirmar essas duas coisas simultaneamente, nega uma terceira: (c) Logo, o mundo não pode ter passado por um processo evolutivo. Em síntese, criacionismo é um conceito teo-filosófico desenhado para combater o evolucionismo;
2. Evolucionismo, tão ruim quanto o criacionismo. O evolucionismo também afirma duas coisas simultaneamente: (a) o mundo se desenvolveu a partir de um início muito simples para uma realidade bastante complexa; (b) esse desenvolvimento, evolutivo em sua natureza, não tem lógica, a não ser a do acaso. Conseqüentemente, o evolucionismo nega uma terceira crença: (c) Logo, o mundo não pode ter sido criado por um ser inteligente. Assim como o criacionismo é um conceito desenhado para combater o evolucionismo, este é um conceito filo-teológico criado para combater o criacionismo;
3. E daí? Daí que os dois estão redondamente enganados. Para ser mais exato, matematicamente falando, os dois estão errados em 2/3 dois terços de suas definições. Em ambos os casos, acertam apenas na letra (a), e erram nas letras (b) e (c). Do ponto de vista da fé cristã, afirmar que Deus criou o mundo é uma afirmação correta, mas afirmar que ele o criou exatamente da maneira como está descrito na Bíblia é errado - assim como negar a possibilidade de um mecanismo evolutivo. Do ponto de vista da ciência, afirmar que o mundo passa por um processo de desenvolvimento do simples para o complexo é correto (pelo menos por enquanto), mas afirmar que esse proceso é uma evolução é errado, posto que evolução é um conceito que pressupõe uma inteligência normativa - assim como é errado, cientificamente falando, negar a possibilidade de um ser inteligente ter criado o mundo;
4. Que quer dizer a Bíblia quando fala do Deus criador e descreve o ato criador? A pista começa, para cristãos, em Hebreus 11,3: "Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem". É "pela fé" e não "pela ciência" que afirmamos que Deus criou o mundo pela sua palavra. Com isto em mente, voltamos para Gênesis 1-2 e podemos nos livrar do dilema "criacionismo vs. evolucionismo). Como? Em Gn 1-2 não encontramos descrições de como Deus criou o mundo, mas descrições de para quê Deus criou o mundo. Deus criou o mundo para que o ser humano cuidasse do mundo assim como Deus cuida do ser humano. (Ponto Final!)
5. E a evolução? Ora, se Gn 1-2 não descreve como, mas para quê Deus criou o mundo, os cientistas têm terreno livre para tentar descrever como o mundo chegou a ser o que é. E o evolucionismo? Bem, aí a coisa muda de figura, posto que o evolucionismo não só afirma como, mas também quer explicar para quê o mundo existe. Ao chegar a ese ponto, o evolucionismo deixa de ser ciência e se torna filosofia, moral, ou até mesmo religião. Não é à toa, então, que criacionistas e evolucionistas vivem brigando entre si - ambos consideram que têm o direito de explicar integralmente como & para quê o mundo existe;
6. Eu não quero entrar nessa briga, pois é uma briga errada. A briga boa, penso eu, junto com Richard Rorty, Gianni Vattimo, Charles Taylor e outros pensadores e pensadoras, tem a ver com os limites da religião e da ciência. A religião nos ajuda a explicar para quê o mundo existe e nós existimos nele. A ciência nos ajuda a explicar como o mundo existe e nós existimos nele. Quando ultrapassam esses limites, religião e ciência nos atrapalham. Quando ficam dentro desses limites e conversam uma com a outra, religião e ciência se ajudam e nos ajudam;
7. Creio, sim, em um Deus Criador. Creio, sim, que o mundo em que vivemos é fruto da ação de Deus. Por isso, aceito o trabalho de cientistas que se esforçam para explicar este mundo em que nós vivemos. Por isso, me esforço para entender e dizer a outras pessoas para quê vivemos neste mundo, dialogando com as ciências, com as filosofias, com as religiões. Por isso, não aceito que um cientista, supostamente cheio da autoridade da Verdade, me ensine para quê vivemos neste mundo. Por isso, não aceito que um teólogo, supostamente cheio da autoridade da Verdade, me ensine como este mundo existe. Por isso, não aceito que teólogos e cientistas briguem por motivos errados. Vale mais a pena conversar do que brigar, uma vez que nem teólogos, nem cientistas são capazes de oferecer respostas perfeitas e completas às importantes perguntas relativas ao como e ao para quê o mundo existe e nós existimos nele.
1. O criacionismo é um conceito teológico-filosófico que afirma duas coisas simultaneamente: (a) Deus criou o mundo; (b) Deus criou o mundo exatamente da maneira como a Bíblia descreve. Ao afirmar essas duas coisas simultaneamente, nega uma terceira: (c) Logo, o mundo não pode ter passado por um processo evolutivo. Em síntese, criacionismo é um conceito teo-filosófico desenhado para combater o evolucionismo;
2. Evolucionismo, tão ruim quanto o criacionismo. O evolucionismo também afirma duas coisas simultaneamente: (a) o mundo se desenvolveu a partir de um início muito simples para uma realidade bastante complexa; (b) esse desenvolvimento, evolutivo em sua natureza, não tem lógica, a não ser a do acaso. Conseqüentemente, o evolucionismo nega uma terceira crença: (c) Logo, o mundo não pode ter sido criado por um ser inteligente. Assim como o criacionismo é um conceito desenhado para combater o evolucionismo, este é um conceito filo-teológico criado para combater o criacionismo;
3. E daí? Daí que os dois estão redondamente enganados. Para ser mais exato, matematicamente falando, os dois estão errados em 2/3 dois terços de suas definições. Em ambos os casos, acertam apenas na letra (a), e erram nas letras (b) e (c). Do ponto de vista da fé cristã, afirmar que Deus criou o mundo é uma afirmação correta, mas afirmar que ele o criou exatamente da maneira como está descrito na Bíblia é errado - assim como negar a possibilidade de um mecanismo evolutivo. Do ponto de vista da ciência, afirmar que o mundo passa por um processo de desenvolvimento do simples para o complexo é correto (pelo menos por enquanto), mas afirmar que esse proceso é uma evolução é errado, posto que evolução é um conceito que pressupõe uma inteligência normativa - assim como é errado, cientificamente falando, negar a possibilidade de um ser inteligente ter criado o mundo;
4. Que quer dizer a Bíblia quando fala do Deus criador e descreve o ato criador? A pista começa, para cristãos, em Hebreus 11,3: "Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem". É "pela fé" e não "pela ciência" que afirmamos que Deus criou o mundo pela sua palavra. Com isto em mente, voltamos para Gênesis 1-2 e podemos nos livrar do dilema "criacionismo vs. evolucionismo). Como? Em Gn 1-2 não encontramos descrições de como Deus criou o mundo, mas descrições de para quê Deus criou o mundo. Deus criou o mundo para que o ser humano cuidasse do mundo assim como Deus cuida do ser humano. (Ponto Final!)
5. E a evolução? Ora, se Gn 1-2 não descreve como, mas para quê Deus criou o mundo, os cientistas têm terreno livre para tentar descrever como o mundo chegou a ser o que é. E o evolucionismo? Bem, aí a coisa muda de figura, posto que o evolucionismo não só afirma como, mas também quer explicar para quê o mundo existe. Ao chegar a ese ponto, o evolucionismo deixa de ser ciência e se torna filosofia, moral, ou até mesmo religião. Não é à toa, então, que criacionistas e evolucionistas vivem brigando entre si - ambos consideram que têm o direito de explicar integralmente como & para quê o mundo existe;
6. Eu não quero entrar nessa briga, pois é uma briga errada. A briga boa, penso eu, junto com Richard Rorty, Gianni Vattimo, Charles Taylor e outros pensadores e pensadoras, tem a ver com os limites da religião e da ciência. A religião nos ajuda a explicar para quê o mundo existe e nós existimos nele. A ciência nos ajuda a explicar como o mundo existe e nós existimos nele. Quando ultrapassam esses limites, religião e ciência nos atrapalham. Quando ficam dentro desses limites e conversam uma com a outra, religião e ciência se ajudam e nos ajudam;
7. Creio, sim, em um Deus Criador. Creio, sim, que o mundo em que vivemos é fruto da ação de Deus. Por isso, aceito o trabalho de cientistas que se esforçam para explicar este mundo em que nós vivemos. Por isso, me esforço para entender e dizer a outras pessoas para quê vivemos neste mundo, dialogando com as ciências, com as filosofias, com as religiões. Por isso, não aceito que um cientista, supostamente cheio da autoridade da Verdade, me ensine para quê vivemos neste mundo. Por isso, não aceito que um teólogo, supostamente cheio da autoridade da Verdade, me ensine como este mundo existe. Por isso, não aceito que teólogos e cientistas briguem por motivos errados. Vale mais a pena conversar do que brigar, uma vez que nem teólogos, nem cientistas são capazes de oferecer respostas perfeitas e completas às importantes perguntas relativas ao como e ao para quê o mundo existe e nós existimos nele.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Religião e Ética, de novo
Uma semana sem postar - muito trabalho e muitos problemas com vírus (informáticos) e arquivos infectados ... Os imprevistos e as rotinas do dia-a-dia também atrapalham a disposição blogueirante.
Mas, vamos lá. Problemas informáticos à parte, que são de solução relativamente simples, na última postagem comecei a tratar de um problema bem mais complicado e de solução muito difícil, senão impossível. Para muitos praticantes da religião, o que realmente importa é o rito, o culto, ou o êxtase, a emoção, a interioridade. São esses que eu chamei de "espirituais", mas poderia chamar de subjetivistas, interioristas, intimistas, ou coisa semelhante. Para esse tipo de experiência religiosa, a relação com a ética é de radical distinção. Religião é uma coisa, ética é outra. A religião e a ética ficam em compartimentos separados do cérebro e do resto do corpo também. Possuem fontes diferentes e seguem caminhos diferentes. Por isso, é relativamente comum que tais religiosos sejam eticamente inconseqüentes. Apesar de autores e autoras que afirmam ser a ética predominantemente uma questão de decisões emocionais, penso e vejo a ética (minha e de outros)como uma prática predominantemente argumentativa, ou racional - seja uma racionalidade meramente instrumental (o mais curto caminho para conseguir o objetivo desejado), sejam outros tipos de racionalidade, mais abrangentes, mais amplos. Como a experiência religiosa drena a maior parte das energias para o investimento emocional, faltam forças para a reflexão ética que, passa, então, a ser subordinada à emoção religiosa. A religião ajuda a lidar com o stress do dia-a-dia, gerando um mundo virtual de bênçãos e maldições, de modo que a energia investida na religião acaba por se traduzir em "lucros" materiais e éticos - lucros virtuais ou reais.
A ética cristã "padrão", por outro lado, não segue um caminho distinto do da experiência religiosa cristã. Por quê? Porque a experiência religiosa cristã "neo-testamentária" é eminentemente pessoal e se constitui de fidelidade e amor (a Deus e ao próximo e a mim-mesmo). O problema a ser enfrentado pelos crentes cristãos é o da doutrina milenar das igrejas, que afirma que a experiência religiosa cristã é, eminentemente, de crença e obediência (à instituição mediadora da experiência). Os "espirituais" apenas trocaram a crença pela emoção, e a obediência passou a ser dirigida ao "agente do sagrado" mais próximo do crente - pastor, padre, santo, freira, bispo, apóstolo, ou seja qual for o nome ou título do mediador da experiência.
O desafio, então, é recanalizar nossa busca e nossas energias religiosas para a relação pessoal com Deus, mediante a relação pessoal com o próximo e comigo mesmo. A mediação da relação com Deus, então, não é mais a doutrina, nem a emoção, mas a fidelidade amorosa e o amor fiel ao Outro como Próximo e ao Si-Mesmo como Outro (Paul Ricoeur). Pode parecer uma descrição "humanista" ou "secularista" da fe cristã, mas não é. Veja os seguintes textos bíblicos: "se vos amardes uns aos outros como eu (Jesus) vos amei, todos saberão que sois meus discípulos" (João 13,34-35); ou "se alguém diz: 'Eu amo a Deus', e odeia seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu" (I João 4,20-21), ou "Mas dirá alguém: 'Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras" (Tiago 2,18); ou, para não dizer que não citei Paulo: "Pois toda a lei se cumpre numa só palavra, a saber: Amarás a teu próximo como a ti mesmo" (Gálatas 5,14), ou "Porque no Messias Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor" (Gálatas 5,6).
Só assim, pelo menos na visão cristã neotestamentária, religião e ética caminham juntas - no caminho do amor ao próximo.
Mas, vamos lá. Problemas informáticos à parte, que são de solução relativamente simples, na última postagem comecei a tratar de um problema bem mais complicado e de solução muito difícil, senão impossível. Para muitos praticantes da religião, o que realmente importa é o rito, o culto, ou o êxtase, a emoção, a interioridade. São esses que eu chamei de "espirituais", mas poderia chamar de subjetivistas, interioristas, intimistas, ou coisa semelhante. Para esse tipo de experiência religiosa, a relação com a ética é de radical distinção. Religião é uma coisa, ética é outra. A religião e a ética ficam em compartimentos separados do cérebro e do resto do corpo também. Possuem fontes diferentes e seguem caminhos diferentes. Por isso, é relativamente comum que tais religiosos sejam eticamente inconseqüentes. Apesar de autores e autoras que afirmam ser a ética predominantemente uma questão de decisões emocionais, penso e vejo a ética (minha e de outros)como uma prática predominantemente argumentativa, ou racional - seja uma racionalidade meramente instrumental (o mais curto caminho para conseguir o objetivo desejado), sejam outros tipos de racionalidade, mais abrangentes, mais amplos. Como a experiência religiosa drena a maior parte das energias para o investimento emocional, faltam forças para a reflexão ética que, passa, então, a ser subordinada à emoção religiosa. A religião ajuda a lidar com o stress do dia-a-dia, gerando um mundo virtual de bênçãos e maldições, de modo que a energia investida na religião acaba por se traduzir em "lucros" materiais e éticos - lucros virtuais ou reais.
A ética cristã "padrão", por outro lado, não segue um caminho distinto do da experiência religiosa cristã. Por quê? Porque a experiência religiosa cristã "neo-testamentária" é eminentemente pessoal e se constitui de fidelidade e amor (a Deus e ao próximo e a mim-mesmo). O problema a ser enfrentado pelos crentes cristãos é o da doutrina milenar das igrejas, que afirma que a experiência religiosa cristã é, eminentemente, de crença e obediência (à instituição mediadora da experiência). Os "espirituais" apenas trocaram a crença pela emoção, e a obediência passou a ser dirigida ao "agente do sagrado" mais próximo do crente - pastor, padre, santo, freira, bispo, apóstolo, ou seja qual for o nome ou título do mediador da experiência.
O desafio, então, é recanalizar nossa busca e nossas energias religiosas para a relação pessoal com Deus, mediante a relação pessoal com o próximo e comigo mesmo. A mediação da relação com Deus, então, não é mais a doutrina, nem a emoção, mas a fidelidade amorosa e o amor fiel ao Outro como Próximo e ao Si-Mesmo como Outro (Paul Ricoeur). Pode parecer uma descrição "humanista" ou "secularista" da fe cristã, mas não é. Veja os seguintes textos bíblicos: "se vos amardes uns aos outros como eu (Jesus) vos amei, todos saberão que sois meus discípulos" (João 13,34-35); ou "se alguém diz: 'Eu amo a Deus', e odeia seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu" (I João 4,20-21), ou "Mas dirá alguém: 'Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras" (Tiago 2,18); ou, para não dizer que não citei Paulo: "Pois toda a lei se cumpre numa só palavra, a saber: Amarás a teu próximo como a ti mesmo" (Gálatas 5,14), ou "Porque no Messias Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor" (Gálatas 5,6).
Só assim, pelo menos na visão cristã neotestamentária, religião e ética caminham juntas - no caminho do amor ao próximo.
domingo, 6 de junho de 2010
Religião e Ética
Há muitos discursos anti-religiosos hoje em dia. A maior parte deles se baseia em simples preconceito, ora pessoal, ora intelectual - preconceito que podemos traçar pelo menos até as origens da Modernidade, quando por justas razões se criticava a instituição eclesiástica alinhada com os governos imperiais, o que se chama até hoje de Cristandade e é uma mancha terrível no Cristianismo. Justas razões servem, também, para encobrir más atitudes e o preconceito anti-religioso é uma dessas má atitudes encobertas por boas razões. Mas, deixo de lado o preconceito anti-religioso. Não gosto de defender as religiões, seja porque elas não precisam de defensores, seja porque há tanta pluralidade no campo religioso, inclusive dentro de grandes instituições religiosas, que defender ou atacar a religião, ou as religiões, sempre recairá em um generalismo inconseqüente.
Meu tema é outro. Um discurso apologético das religiões é o que afirma que a prática religiosa torna as pessoas mais éticas, mais conscientes da sua culpa, mais abertas à correção de seus próprios rumos. Bem, por um lado, conheço várias pessoas em relação às quais tais afirmações tenham validade - mas também conheço bem mais gente para as quais não têm.
Uma variante desse discurso apologético se dá no âmbito interno da disputa entre denominações cristãs. Uma disputa antiga e que, até onde consigo enxergar, não cessará tão cedo, ou mesmo jamais cessará. Mencionarei apenas uma dessas disputas, a disputa entre "espirituais" e "doutrinários". Evito os termos mais comuns dessa disputa "pentecostais" versus "tradicionais", exatamente por causa do generalismo perigoso que tais termos acarretam, como se todos os pentecostais fossem iguais e todos os tradicionais idem.
A questão, a meu ver, é que no âmbito do Cristianismo há, recorrentemente, uma disputa entre pessoas e instituições que assumem ser mais espirituais do que outras pessoas e instituições. O problema é que tais pessoas "mais espirituais" definem a espiritualidade a partir de sua própria experiência religiosa, que se torna o padrão para julgar outras pessoas e instituições.
Infelizmente, porém, dia após dia indícios de que tal espiritualidade superior não é compatível com a fé cristã se avolumam. Ser cristão não é uma questão de "experiência", ou de "espiritualidade" mas de amor ao próximo e integridade pessoal e institucional. De nada adiantam experiências fantásticas, êxtases cúlticos, fervores na oração, etc., se tais não se fazem acompanhar de amor e integridade. De fato, sem amor e integridade só nos restam desculpas e discursos auto-apologéticos e acusatórios contra os que não são como nós.
Precisamos reinventar o padrão da espiritualidade cristã, a partir da simplicidade do amor e da integridade (que não é sinônimo de perfeição!). Religião e ética não caminham juntas automaticamente, especialmente no Cristianismo. Ser cristão implica em diariamente enfrentar o desafio de caminhar em amor e integridade, porque cristãs e cristãos sabem que são "pecadores", ou seja, são pessoas que normalmente não caminham em amor e integridade, e sabem que não basta ter uma "experiência" espiritual fantástica na vida para deixarmos de ser o que somos.
Uma vez pecador, sempre pecador. A única diferença entre as pessoas é que algumas dentre as pecadoras assumem sua pecaminosidade e a enfrentam com amor e integridade. Outras, ou não a assumem, ou a enfrentam com "espiritualidade". Se você preferir linguagem religiosa, umas assumem o caminho do Messias Jesus, outras não. Mas só um lembrete: o caminho do Messias Jesus não é o caminho das Igrejas e das "espiritualidades" ...
Meu tema é outro. Um discurso apologético das religiões é o que afirma que a prática religiosa torna as pessoas mais éticas, mais conscientes da sua culpa, mais abertas à correção de seus próprios rumos. Bem, por um lado, conheço várias pessoas em relação às quais tais afirmações tenham validade - mas também conheço bem mais gente para as quais não têm.
Uma variante desse discurso apologético se dá no âmbito interno da disputa entre denominações cristãs. Uma disputa antiga e que, até onde consigo enxergar, não cessará tão cedo, ou mesmo jamais cessará. Mencionarei apenas uma dessas disputas, a disputa entre "espirituais" e "doutrinários". Evito os termos mais comuns dessa disputa "pentecostais" versus "tradicionais", exatamente por causa do generalismo perigoso que tais termos acarretam, como se todos os pentecostais fossem iguais e todos os tradicionais idem.
A questão, a meu ver, é que no âmbito do Cristianismo há, recorrentemente, uma disputa entre pessoas e instituições que assumem ser mais espirituais do que outras pessoas e instituições. O problema é que tais pessoas "mais espirituais" definem a espiritualidade a partir de sua própria experiência religiosa, que se torna o padrão para julgar outras pessoas e instituições.
Infelizmente, porém, dia após dia indícios de que tal espiritualidade superior não é compatível com a fé cristã se avolumam. Ser cristão não é uma questão de "experiência", ou de "espiritualidade" mas de amor ao próximo e integridade pessoal e institucional. De nada adiantam experiências fantásticas, êxtases cúlticos, fervores na oração, etc., se tais não se fazem acompanhar de amor e integridade. De fato, sem amor e integridade só nos restam desculpas e discursos auto-apologéticos e acusatórios contra os que não são como nós.
Precisamos reinventar o padrão da espiritualidade cristã, a partir da simplicidade do amor e da integridade (que não é sinônimo de perfeição!). Religião e ética não caminham juntas automaticamente, especialmente no Cristianismo. Ser cristão implica em diariamente enfrentar o desafio de caminhar em amor e integridade, porque cristãs e cristãos sabem que são "pecadores", ou seja, são pessoas que normalmente não caminham em amor e integridade, e sabem que não basta ter uma "experiência" espiritual fantástica na vida para deixarmos de ser o que somos.
Uma vez pecador, sempre pecador. A única diferença entre as pessoas é que algumas dentre as pecadoras assumem sua pecaminosidade e a enfrentam com amor e integridade. Outras, ou não a assumem, ou a enfrentam com "espiritualidade". Se você preferir linguagem religiosa, umas assumem o caminho do Messias Jesus, outras não. Mas só um lembrete: o caminho do Messias Jesus não é o caminho das Igrejas e das "espiritualidades" ...
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