quarta-feira, 31 de março de 2010

Um novo blog - bíblico!

Esse negócio de blog é interessante e viciante. Depois que comecei este bloguinho, vários colegas mandaram emails, conversaram comigo, etc. O João Leonel, amigo de muito tempo, professor na Universidade Mackenzie, com quem estou para publicar um livro sobre leituras literária e lingüística da Bíblia, deu a idéia de a gente fazer um blog sobre interpretação de textos bíblicos. Convidamos um outro grande amigo, o Paulo Nogueira, professor da UMESP, que topou de imediato. Já temos trocado vários emails para "montar" o blog. Nossa idéia é fazer leitura de textos bíblicos "fora da caixa", ou seja, saindo do cânone acadêmico, apontando possibilidades, assumindo riscos. Assim que a gente começar, eu passo o endereço, é claro! Ah! Esse blog também estará aberto para debates e contribuições de gente boa fora do trio de blogueiros-chefes (eta vício autoritário!!!!)
Abs

segunda-feira, 29 de março de 2010

Evangélicos e Homofobia

Tenho acompanhado as discussões sobre o projeto de lei que tramita no Congresso, para alteração da lei contra a discriminação, que define como crime a discriminação por sexo e gênero - além das já normatizadas discriminações por raça e credo.
Quase invariavelmente a posição evangélica é contrária à lei, por considerar que ela feriria os interesses eclesiásticos e doutrinários de evangélicos, estabelecendo, por exemplo, a obrigatoriedade do casamento religioso de homossexuais, a criminalização da doutrina do homossexualismo como pecado, etc.
Algum dia mais adiante escreverei mais detalhadamente sobre o projeto de lei e a fobia evangélica em relação à sexualidade. Deixo registrada aqui, porém, para ouvir sua reação, minha discordância com relação à essa atitude contrária ao projeto de lei por parte de evangélicos. Meu motivo básico é:
Não podemos confundir crenças religiosas com direitos civis. Se igrejas cristãs têm o direito de não ordenar mulheres, de não aceitar certos comportamentos de seus membros, e de definir suas próprias regras internas, como instituições privadas, por um lado, e instituições protegidas pela lei da liberdade religiosa e isentas de várias obrigações fiscais, por outro; por que não defender os direitos públicos de cidadãs e cidadãos homossexuais, assim como defendemos os direitos públicos de mulheres, negros, povos indígenas, portadores de necessidades especiais, etc.?
Haverá conflitos jurídicos se a lei for aprovada? Certamente, mas quem tem medo de conflitos, fuja da democracia. A homofobia fede, parafraseando Cazuza, por isso há "algo de podre" na república brasileira (parafraseando Shakespeare)...

A integralidade da missão

Neste fim de semana estive em Arujá, lecionando num programa conjunto da Faculdade Unida e da FLAM. Foi ótimo voltar ao "acampamento" do Jovens da Verdade e rever um local onde trabalhei no início de meu ministério e retomar o trabalho conjunto com Jaziel e Ivone (além de um monte de gente que trabalha lá). Se vc não acredita em "milagres", passe por lá. Pena que não há vídeos do JV nos anos 70 e 80 para vc poder comparar!
Passar dois dias lá, respirando ar puro, fora do calor de Vitória, conhecendo novos colegas, semeando novas (ou velhas) "heresias" entre a estudantada (que já é gente formada!), me deu a oportunidade de pensar sobre um tópico da Teologia da Missão Integral.
A TMI nasceu como uma bandeira de protesto e resistência contra a prática reducionista da missão pelas igrejas norte-americanas, em especial, e norte-atlânticas em geral - juntamente com suas "filhas" ou "filiais" abaixo da linha do equador. O ano de nascimento pode ser reconhecido como o de 1970, ano da fundação da Fraternidad Teológica Latinoamericana (assim, em espanhol, para lembrar que se nós brasileiros fazemos parte da América Latina, somos uma parte diferente, tanto pelo tamanho quanto pelo idioma).
Daquele ano até hoje, a TMI deu voltas pelo contintente americano e pelos demais continentes e se tornou uma teologia multi-continental. É claro que isso nos alegra, mas também começa a trazer preocupações, pois temos de tomar cuidado com pelo menos duas coisas: (a) achar que só quem afirma a TMI pratica a integralidade da missão - René Padilla, mais de uma vez, lembrou a turma da TMI de que tem muita gente fazendo missão integral sem nem saber o que é a TMI; (b) achar que quem proclama o nome "Missão Integral" pratica, de fato, a integralidade da missão. TMI pode - e eu considero que já está se tornando em alguns lugares - se tornar mera ortodoxia morta, usada apenas para legitimar práticas reducionistas de missão.
Quatro décadas de TMI! A principal lição que eu aprendi: o que importa não é a TMI, mas a prática da missão na sua integralidade e integridade. Integralidade que é sempre um desafio, uma convocação, uma tarefa - posto que nossos conhecimentos e práticas são sempre contextuais, parciais, limitados. Integridade que é, sempre também, uma tarefa, um desafio, uma abertura de nossa parte ao Espírito de Deus que nos torna íntegros, santos, eticamente "testemunhas" do Evangelho na sua plenitude.
Integr(al)idade da ação missionária e do pensamento teológico - essa é a grande lição da TMI, que deve ressoar mesmo quando o "prazo de validade" da TMI tiver se esgotado.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Teologia e Universidade (Mesa Redonda - EST 2008)

Introdução

O tema que nos reúne nesta Mesa-Redonda é tão amplo e relevante que nos desafia a, no espaço de tempo de que dispomos, oferecer subsídios para uma discussão já em andamento e que não dá sinais de se atenuar. Em vários artigos e encontros acadêmicos nos quais o tema tem sido tratado recentemente no Brasil, o caminho mais trilhado é o da discussão sobre a cientificidade da teologia, o que lhe garantiria um lugar juntamente com as demais ciências que formam, em seu conjunto, supostamente unificado, a universidade. Tendo em vista que, em mais de uma ocasião, me pronunciei sobre o caráter não-científico da teologia, a coerência me obriga a tomar outro caminho – obrigação, aliás, que é facilitada pela qualidade e propriedade com que vários colegas têm percorrido o primeiro caminho mencionado. Optei, então, por trazer à nossa discussão algumas questões, não a respeito do estatuto da teologia na universidade, mas a respeito do estatuto da própria universidade (Por economia linguageira uso os termos teologia e universidade no singular, entretanto, nem teologia nem universidade são instituições e práticas singulares, mas múltiplas, multiformes, diversificadas).
Nas últimas décadas do século passado, a missão, a identidade, ou a responsabilidade da universidade têm sido extensamente debatidas por ilustres pensadores e docentes, bem como por administradores, políticos, estrategistas e financistas. Em um mundo de sociedades e economias globalizadas, de disputas político-militares de alta e baixa intensidade, de rendição ao charme da tecnociência, de passagem para o estilo tecnoinformático de vida, a universidade se vê frente a frente com desafios de elevada monta, o que a tem obrigado a se repensar e, segundo muitas vozes, a se reinventar. Mantendo isto em mente, me proponho a tecer alguns breves e arriscados comentários, inspirados por minha experiência de inserção nos debates com acadêmicos universitários e por alguns dos textos que li, sobre que tipo de universidade deve existir para que a Teologia sinta-se à vontade dentro dela.


1. Universidade e projeto político emancipatório

Inicio com a conclusão do geógrafo Milton Santos, em palestra proferida no ano 2000, sobre a situação da universidade brasileira e seu futuro:
Mas não seria justo concluir com uma rota pessimista. Com todos os seus defeitos atuais, tão parecidos em quase todo o mundo, as Universidades geram o veneno e o antídoto, mesmo se em doses diferentes. Lugar de um saber vigiado e viciado, elas são, também, e ainda, o único lugar onde o contra-saber tem a possibilidade de nascer e às vezes prosperar. Isto pode ser o resultado de esforços, de cientistas pioneiros, agrupados ou não. Mas para guardar e manter o pensamento independente, é indispensável que a instituição universitária aceite desinstitucionalizar-se, caminho único para evitar que o excesso de regras e de mandos acabe por esterilizar as suas possibilidades de um trabalho realmente livre, voltado para o interesse geral. A tarefa de incorporar a Universidade num projeto social e nacional impõe primeiro a criação e depois a difusão de um saber orientado para os interesses do maior número e para o homem universal. (SANTOS, Milton. A Universidade: da Intencionalidade à Universalidade. Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 23, 2000, p. 3)
Destaco desta fala: a teologia só poderá sentir-se à vontade em uma universidade que não seja espaço de um “saber vigiado e viciado” – vigiado pelos naturalistas e racionalistas de plantão, viciado pelos corporativismos docentes, pelos esquemas hierarquizados de financiamento e difusão da pesquisa, vigiado pelos estrategistas globais de finanças e segurança internacional. A teologia sentir-se-á à vontade em universidades que priorizem produzir os “contra-saberes” emancipatórios e enfrentar com “in(ter)dependência” as pressões externas e internas para ser uma instituição tradicionalista e subserviente ao poder econômico-militar.
Somente esse tipo de saber, segundo Milton Santos, capacitaria a universidade a se inserir democraticamente na construção, coletiva, de um projeto político nacional, com tons universalizáveis, que se contraponha à forma de globalização atualmente em curso hegemônico. A teologia, se fiel à sua longa tradição de fidelidade à Palavra de Deus acima de qualquer outra fidelidade – inclusive acima da fidelidade às Igrejas nas quais se realiza – poderá contribuir significativamente com a construção desses contra-saberes, pois é, ela mesma, um dos mais importantes contra-saberes da tecnociência ensimesmada e dominante.


2. Universidade e conhecimento plural

O conhecimento pluriversitário é um conhecimento contextual na medida em que o princípio organizador da sua produção é a aplicação que lhe pode ser dada. Como essa aplicação ocorre extra-muros, a iniciativa da formulação dos problemas que se deve resolver e a determinação dos critérios de relevância destes é o resultado de uma partilha entre pesquisadores e aplicadores. É um conhecimento transdisciplinar, que pela sua própria contextualização, obriga a um diálogo ou confronto com outros tipos de conhecimento, o que torna internamente mais heterogêneo e mais adequado a ser produzido em sistemas abertos menos perenes e de organização menos rígida e hierárquica. (SANTOS, Boaventura de S. A universidade do século XXI. Para uma reforma democrática e emancipatória da Universidade. p. 29-30.)
O conhecido sociólogo e militante político Boaventura de Sousa Santos tem escrito e debatido amplamente sobre a ciência e a Universidade contemporâneas. No texto de que extraí a citação acima, Boaventura insere a universidade, como Milton Santos, no caminho de colaboração com a construção de projetos políticos alternativos à globalização capitalista. Para ele, tal responsabilidade exige que a universidade reconheça o seu caráter plural, pois que o conhecimento não mais se pode pensar como unitário, uniforme, único, universal (metafísico, como diria Habermas; forte, como diria Vattimo, ontoteológico, como diria Heidegger; ou fundacionista, como diria Rorty). Esse conhecimento pluriversitário é, simultaneamente, contextual e transdisciplinar – ou seja, não pode ser único, não deve ser reduzido às disciplinas em que se costumou manifestar, não tem o direito de usurpar o espaço de outros saberes não-científicos e, acima de tudo, não pode assumir a pretensão de validade universal – logo, hegemônica e excludente.
Em uma universidade que se construa pluriversitariamente, o saber teológico não teria problemas em se localizar e colaborar na construção de saberes emancipatórios, científicos ou não tão científicos – mas saberes legítimos, válidos, validados – não pela comunidade acadêmica ensimesmada, mas democraticamente validados pelas sociedades a quem o saber deve estar a serviço [“Começa a ser socialmente perceptível que a universidade, ao especializar-se no conhecimento científico e ao considerá-lo a única forma de conhecimento válido, contribuiu activamente para a desqualificação e mesmo destruição de muito conhecimento não-científico e que, com isso, contribuiu para a marginalização dos grupos sociais que só tinham ao seu dispor essas formas de conhecimento.” (idem, p. 56)]
Tal universidade deverá assumir os riscos de se inserir no estilo de vida democrático e nas lutas constantes que se dão nesse estilo de vida e espaço de atuação dos mais diversificados atores e interesses sociais. Assumindo essa tarefa, a universidade só poderá ser beneficiada pela presença dialogante e crítica da teologia, contra-saber que prima pela contextualidade, pela ecumenicidade, pela eticidade, pela publicidade – como expressão teo-lógica, ou seja, expressão do amor divino pela criação, encarnado e incorporado pelas pessoas que O amam e vivem de forma fiel ao Seu projeto libertador.


3. Universidade e a convocação ao pensar

Encerro minha fala trazendo para o debate a voz de outro ilustre acadêmico, Jacques Derrida:
É possível falar desta nova responsabilidade que tenho invocado apenas através de uma convocação à prática. Seria a responsabilidade de uma comunidade de pensamento para a qual a fronteira entre pesquisa básica e aplicada não estaria mais assegurada, ou, de qualquer forma, não sob as mesmas condições de outrora. Nomeio-a de comunidade de pensamento em sentido amplo – “ao largo” – ao invés de uma comunidade de pesquisa, de ciência, ou filosofia, visto que estes valores são, na maior parte do tempo, sujeitos à autoridade inquestionável do princípio da razão. Ora, razão é apenas uma espécie de pensamento – o que não significa que o pensamento é ‘irracional’. Tal comunidade iria interrogar a essência da razão e do princípio da razão, os valores do básico, do principial, da radicalidade, da arché, em geral, e tentaria extrair todas as conseqüências possíveis deste questionamento. […] Eu insisti, naquele relatório [prestado ao governo francês a respeito de uma escola internacional de filosofia], em enfatizar a dimensão do que, neste contexto, chamo de ‘pensamento’ – uma dimensão não redutível à técnica, à ciência, ou à filosofia. (DERRIDA, Jacques. Eyes of the university: Right to philosophy 2. Stanford: Stanford University Press, 2004, p. 148)
Em tal tipo de universidade a teologia ficaria à vontade – e a voz de Derrida me faz voltar a atenção não mais para a universidade, mas para a teologia – pois que ela é pensamento: não técnico, não científico, não tecnológico; mas pensamento religioso, disciplinado e rigoroso; características que a distinguem do testemunho, da adoração, da oração, do ritual e, em especial, do dogma – mas não a afasta de sua origem: as comunidades de fé que aprenderam, com Cristo, a ouvir o clamor das pessoas e da natureza que gemem sob o peso da indignidade, da desumanização, da desnaturalização. Pensamento que não cessa de questionar uma razão ensimesmada, patri-cêntrica, submissa aos imperativos do poder, da mídia, da técnica e do mercado. Pensamento que, simultaneamente, não cessa de questionar as instituições religiosas que permanentemente se perpetuam em usurpar a fé e a vida das comunidades de fé. Pensamento que não cessa de questionar a si próprio, posto que jamais isento de degenerar-se em mera tecnologia religiosa, filosofia institucional, ciência des-amorante.
Nas palavras do apóstolo Paulo, a teologia é um pensamento apto, sempre que necessário, para “a destruição de fortalezas, derrubando razões e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus” (II Co 10,4-5). Pensamento, por isso, arriscado, que deve se vigiar e ser constantemente vigiado para não se tornar arqui-pensamento, pseudo-pensamento, cessação do pensamento. Que deve se posicionar na universidade como espaço de participação de outsiders, como caixa de ressonância dos clamores da sociedade e da natureza, como parceira de diálogo, como apoiadora, como companheira, como incentivadora da pesquisa, dos saberes e contra-saberes, de todo autêntico ‘pensamento’.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Facilitando Comentários

Mudei a configuração dos comentários. Agora vc não precisa ter "conta" em sites. AO fazer seu comentário escolha o perfil "anônimo" ou "nome/url", e envie o comentário.
Julio

Dimensão pública da teologia

Nos últimos anos, cada vez mais me convenço de que a teologia não pode ficar "fechada" nas igrejas e academias teológicas. Tem de ser aberta para a sociedade, para a cultura, para a vida cotidiana das pessoas. A Teologia da Libertação na América Latina era uma teologia desse tipo - aberta, pública. A Teologia da Missão Integral tem essa vocação, mas o peso do igrejismo evangélico ainda é muito forte, e vira e mexe, a TMI se deixa privatizar.
Agora, dito isto, deixem-me fazer uma qualificação. No Primeiro Mundo se criou a chamada "Teologia Pública". Por mais interessante que seja, quando falo da dimensão pública da teologia, não falo em Teologia Pública. A "Teologia Pública" trabalha enfaticamente a dimensão pública da teologia e suas expressões concretas são as mais variadas e ricas, em todos os continentes, inclusive aqui no Brasil. Só faço este comentário pra não ficarmos pensando que "Teologia Pública" é uma nova corrente teológica...
Se levarmos a sério a dimensão pública da teologia, esta deve dialogar com as grnades e não-tão-grandes questões da vida - preservação do meio-ambiente, violência, criminalidade, gênero, justiça, democracia, diálogo inter-religioso, aquecimento global, água, trânsito, lazer, prazer, mídia, ciência, tecnologia ...
Ufa! Já cansei. Talvez seja mais fácil voltar ao mundinho privatizado da teologia enlatada importada do tradicionalismo.
Que vc acha?

Temas para "postagem"

A idéia básica deste blog é ser algo pessoal, mas aberto para co-blogueirantes.
Assim, que tal você sugerir temas para postagens?

terça-feira, 23 de março de 2010

Teologando pentecostalmente

Um amigo, de pouco tempo, teólogo pentecostal, Esdras, morador do Rio de Janeiro, trabalhador na Assembléia de Deus, fez dois comentários ao meu post "fraterna". Escreveu pouco, mas disse quase tudo. Vale a pena ler seus comentários.
Concordo com você, Esdras, a pessoa pneumática é contrária à pessoa anímica de I Coríntios 2 (e também do capítulo 15). Só que no discurso evangélico comum, espiritual é confundido com anímico - não são os "clérigos" que recebem o adjetivo "espiritual" e são considerados heróis da fé? Não são as emoções, o critério de espiritualidade mais usado nas igrejas?
Taí uma temática interessante para a teologia pentecostal. Afinal de contas, que é ser "espiritual"? Precisamos aprender com teólogas e teólogos pentecostais o que é ser espiritual, afinal, as igrejas pentecostais já têm uma longa tradição de afirmação do "espiritual".
Julio

segunda-feira, 22 de março de 2010

Fraterna?

Fraterna é a teologia, por que ela deve ser feita na cumplicidade de pessoas que, esperando um futuro comum, mediante a fé em um mesmo Deus, se perguntam constantemente em que consistem essa esperança e essa fé, esse futuro e esse Deus. Cúmplices na arte de fazer perguntas, de não se satisfazer com as respostas já alcançadas (por melhores que sejam), de buscar sempre novos jeitos de contar a velha e sempre nova história...
Fraterna é a teologia, por que é ação de pessoas que se amam e, por que se amam, não vivem em um idílico mundo ideal de ausência de conflitos. Irmãs e irmãos brigam sim, discutem, saem no tapa, às vezes um mata o outro ... Mas, no fim das contas, continuam irmãs e irmãos,mesma família, mesmo pai e mãe de todas, mesmo salvador de todas, mesmo espírito que anima a todas ... Gosto de pensar nas pessoas teologantes como Abéis e não como Cains.
Abel, vento, passagem rápida, fumaça, fraqueza, não-violência. Muita teologia, porém, se feita sob o signo das instituições acadêmicas ou eclesiásticas, tem o rosto de Caim - lança, flecha, ferro, fogo, violência. É cainita a teologia que se apossa da Verdade, fala em nome da Verdade, reprime em nome da Verdade, exclui em nome da Verdade. De uma Verdade mentirosa, com um V maiúsculo que engana, arroga para si mesma uma durabilidade e dignidade que não possui. Teologia cainita não é teologia! É doutrina, dogma, ortodoxia ... Nos Evangelhos, os demônios conhecem a ortodoxia sobre Jesus, sabem quem ele é, e por isso mesmo são silenciados.
Teologia abelina é frágil, copiando e parafraseando Mesters, é uma flor sem defesa. Não é proprietária da Verdade, mas companheira de quem busca verdades em amor, como ensinava Paulo aos efésios "verdadeirando em amor".
Fraterna é a teologia, por que sendo ação humana, não pode ocupar o lugar do Pai, do Filho, ou do Espírito. Pai que mãe de todas e todos nós; Filho que é irmã e irmão; Espírito que é a feminina face de Deus esvoaçando pelo mundo afora, fecundando a criação com a vida divina. Teologia de irmãs e irmãos é uma sadia brincadeira, um jogo alegre e entusiástico, uma disputa saudável, mas ferrenha, de gente que sempre precisa de mais amor do pai, da mãe, da tia, do tio, da irmã, do irmão ...
É fraterna a teologia, por que é de gente sedenta, e por isso mesmo não é uniforme. Mesmo gêmeos são pessoas independentes e diferentes. Sedentas de unidade, identidade, cumplicidade, mas sem abrir mão da peculiaridade, da diferença, da pluralidade. Por isso, não exclui em nome de uma ortodoxia qualquer, por melhor que seja, se é que pode existir boa ortodoxia.
Fraterna é a teologia, por que ela só se consuma na ampliação da própria fraternidade, no aumento incessante de irmãs e irmãos, no reconhecimento cada vez mais aberto e inclusivo de irmãs e irmãos que outrora desconhecíamos, mas que papai e mamãe nos apresentaram, felizes pelo reencontro.
Teologia é fraternamente crítica, pública, construtiva, desconstrutiva. A família fraterna da teologia brinca e joga com discursos.Teologia fraterna é intelectualmente exigente, eticamente desafiadora, missionalmente vocacionadora, "espiritualmente" transformadora.
Espiritualmente?
Alguém pode me explicar, afinal de contas, o que é esse tal de ser "espiritual"?
Julio

sábado, 20 de março de 2010

Igrejas e Missão Integral

OK! Vc tem razão. É apenas um slogan: "Igrejas cheias, Reino de Deus vazio". Slogan serve para chamar a atenção e destacar um ítem específico. A diversidade eclesial no Brasil é muito grande e não pode ser capturada em um slogan, nem mesmo em uma "análise de conjuntura", ou numa "tipologia". De fato, toda tipologia é uma espécie de andaime - a gente só usa enquanto não conclui o trabalho a ser feito.
Quando olho para o cenário eclesiástico "protestante" brasileiro (que é afinal de contas, ser protestante hoje? Quais são as igrejas protestantes? Sem qualquer exatidão tipológica - protestantes aqui são as igrejas que se dizem cristãs, mas não são católicas nem ortodoxas), o que vejo são muitos templos, dos mais variados tipos e tamanhos, com as mais variadas agendas e programações. Vejo a alegria, às vezes meio envergonhada, de colegas que se ufanam de sermos mais de 20 milhões; ou a tristeza de outros colegas, pela mesma razão.
Bem, eu mais me entristeço do que me alegro com os milhões de protestantes (evangélicos, segundo a mídia) nas igrejas no Brasil. Grosso modo, na maioria dos casos, iremos encontrar pessoas convencidas da eficácia de um discurso religioso, mas sem entrega ao Rei de toda a criação. Pessoas que sabem pedir, suplicar, decretar e pressionar Deus para lhes dar o que desejam; como se Tiago não tivesse nos lembrado que quando oramos mal, vivemos pior ainda; como se Jesus não tivesse tentado nos ensinar a orar ao Pai de toda a criação, e não ao pai individual de cada individualista consumidor religioso de nossos dias.
Ah! Mas o pessoal fala em "missão integral", até a IURD faz obra social! Como diz a canção, "falar é fácil", ou como diria um intelectual, "discursos vazios, ideologicamente eficazes".
Quero lançar um manifesto: "pelo fim da Missão Integral". MI virou ortodoxia oca e enganadora na prática pervertida das instituições igrejeiras que não conhecem o Deus que reina. "Abaixo a Missão Integral", afinal de contas, se somos protestantes, por que paramos de protestar?
Talvez, porém, seja melhor outro manifesto: "Venha o teu Reino, Senhor!" Melhor, não só por que está na Bíblia. Melhor por que "missão integral" é apenas um conceito que nós inventamos na América Latina para, profeticamente, dizer não aos reducionismos missiológicos de direita e de esquerda. Apenas um conceito que servia como bandeira de luta para quem não conseguia se identificar mais com sua própria denominação, nem queria abandonar o arraial evangélico. Só que o arraial evangélico de hoje é um baita circo capenga, no qual os palhaços não são aqueles artistas que nos fazem rir - os "palhaços" somos nós, que pagamos a conta...
"Missão Integral" foi um nome que inventamos para facilitar a compreensão do que a Palavra nos ensina: Venha teu Reino, Senhor! "Missão Integral" não é bíblica. Integralidade da missão é bíblica. "Missão Integral" não é bíblica, Deus-Rei de toda a criação é bíblico.
Se queremos ser fiéis ao movimento que iniciou nos anos 70 na busca de renovação holística das igrejas evangélicas, não podemos nos aferrar a conceitos teológicos - devemos nos apegar ao "além" do conceito, caminhar para "além" do texto.
Ufa! Para terminar, como é terrível o vírus do fundamentalismo. Quando a gente pensa que ele foi embora, ele volta e nos pega de calças curtas = nossos conceitos não são "de Deus", não são "bíblicos" (isso é fundamentalismo). Nossos conceitos são tentativas, são aproximações à Palavra "de Deus", à "Escritura", ao "Reino"...
Será?

sexta-feira, 19 de março de 2010

Mais dois companheiros!

Acabei de ler os comentários do Lobão (que não é o roqueiro, mas o Isaías) e do Redondo (que não é o João Gordo, mas o Márcio). Dois biblistas daqueles que estudam o texto seriamente, direitinho, timtim por timtim ... Gente boa! Abs aos dois e a tanta gente que está se juntando, já são 14 os co-blogueirantes! Será que ganho uma medalha da família evangelizadora Graham?
Ah! Já vou pedindo desculpas se esquecer de mencionar publicamente algum companheiro ou companheira. Vou me esforçar para não esquecer. Se eu não te bajulei publicamente, dá um berro!
Abs

Sucesso?

A turma da teologia bate firme na teologia da prosperidade, uma pseudo-teologia (por que é apenas um bla-bla-bla ideológico, estilo auto-ajuda) que prega o sucesso, a felicidade, no aqui e no agora. Mas, afinal de contas que é ser bem-sucedido na vida?
Certamente, não podemos medir o sucesso com base nos resultados materiais - emprego, dinheiro, posses, negócios, alto ibope. Mas quem de nós quer viver na pobreza, ou ser conhecido como um cara que não conseguiu nada na vida???
Também não podemos medir o sucesso com base nos resultados "espirituais" - milagres, crescimento da igreja, prestígio, seguidores, publicações - mas quem quer um ministério merreca e uma vida espiritual medíocre?
Também não acredito que se possa medir o sucesso pelo critério da política - votos, ser "o cara" do Obama, cargos ... Mas quem não gostaria de chegar "lá"?
Se essas coisas não são marcas do sucesso, também não podem ser descritas apenas como marcas do fracasso...
Um texto na Bíblia diz que tudo o que o justo faz "prospera" (Sl 1,3). Sucesso, então, parece que o texto aponta nessa direção, é realizar coisas que duram, que permanecem, coisas que se parecem com árvores plantadas junto a ribeiros, coisas que não são "palha que o vento espalha".
Gil, em uma de suas músicas (Logos), acertou em cheio quando disse que a modernidade trocou o "logos da posteridade, pelo logo da prosperidade". O mundo do Capital é mundo próspero, mas não póstero ...
Sucesso é permanecer, ir além da época da gente, firmeza nas realizações. Sucesso é praticar justiça que distribui, liberdade, bem-estar e vida para muita gente - o contrário da prosperidade capitalista que retém a vida para alguns e distribui a morte para multidões.
Se meu jeito de ler o Sl 1 não erra demais, o que importa não é o sucesso-em-si (será que existe tal coisa?). O que importa é ser bem-sucedidamente uma pessoa justa, cujas realizações resistirão ao teste do tempo, mas jamais como "monumentos de barbárie" (Walther Benjamin). Pessoalmente libertador é descobrir que só as próximas gerações saberão se fomos ou não pessoas bem-sucedidas. Assim, não preciso procurar o sucesso, basta ter fome e sede de justiça.

O Osvaldo também passou por aqui

O Osvaldo é amigo, lá do Rio, blogueiro velho, tem página na internet e tudo mais. O blog dele, junto com outros dois amigos biblistas e teólogos, Haroldo Reimer e Jimmy S. Cabral, é: http://peroratio.blogspot.com/. A página do Osvaldo é: www.ouviroevento.pro.br.

Abs Osvaldo!!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Que luxo!!!

Cara, esse negócio de internet é perigoso. Nem bem mandei o email e já apareceram 5 comentários!!
E só de gente de prima! Assim vou começar a me "achar". O Pavarini é "o cara" da comunicação evangélica no Brasil. Com vc por aqui espero aprender muito. O Celso é teólogo-poeta e blogueiro antigo. O Irisomar é um amigão - se eu falar mal dele vou apanhar ... nas horas vagas ele ensina artes marciais para policiais. O Irisomar é "o cara"! A Niúra é minha chefa. Era! Agora estou jubilado, me libertei das cadeias de opressão. Ela me dava aumento todo ano mas retia o meu salário na conta dela. Apesar disso, ele é "a cara" do pastorado calvinista no planeta! E a dona Eneida! É a minha esposa, a melhor, mais linda, mais cheia de graça entre todas as mulheres ...
São quase 23hs, tá na hora de dormir, amanhã cedinho pego no batente.
Então, obrigado pessoal!

Co-blogueirantes, não seguidores

Como eu sou semi-analfabeto em programação, consegui mudar o título de "seguidores" para co-blogueirantes, mas não consegui mudar o botão e as palavras "internas". Se vc quiser ser co-blogueirante, se inscreva. É de graça (eu acho!). Eu não procuro seguidores, não preciso de seguidores, e nem merço (muito menos merço) seguidores. Procuro fraternas e fraternos companheiras e companheiros de blogagem teológica ...
Ah! Se vc souber mudar o botão do blog, me ensina ... só não vou pagar!

Por que teologia fraterna?

O título deste blog é meio estranho, pelo menos assim parece. Falamos em teologia pública, prática, sistemática, política, da libertação, da missão, etc. ... mas e essa tal de teologia fraterna?
Bem, não é uma nova corrente teológica, um novo modo de fazer teologia, uma nova e grande sacada para mudar os rumos da reflexão teológica... Nada disso.
É bem mais simples e prosaico. Teologia fraterna por que foi no espaço-tempo da fraternidade teológica latino-americana que aprendi a fazer teologia - e não mais a reproduzir a teologia já feita e definida como verdadeira - seja pelas ortodoxias eclesiásticas, seja pelos fundamentalismos acadêmicos, seja pelas ideologias de plantão.
Fraterna, por que teologia só acontece no companheirismo amoroso de irmãs e irmãos que conseguem falar francamente uns com os outros. Que conseguem dizer o que pensam, sem medo de fiscalização, rotulação, classificação, expulsão.
Fraterna, por que eu não quero, não desejo ser a única pessoa a escrever neste blog. Pra ser sincero, não tenho a menor idéia de como fazer um blog se tornar bem-sucedido. Então, quem sabe vc dá seus palpites teológicos por aqui para aprendermos a fazer sucesso juntos e juntas.
Taí um bom primeiro tema pra pensar. Que é sucesso?
Vou tentar escrever algo sobre isso amanhã. E espero que vc leia e escreva e melhore o que a gente escrever por aqui.